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04 de Agosto de 2016 - 18:05:00

Professores aposentados viajam nas memórias

No ano em que a escola Cruz e Sousa celebra os 100 anos, o Jornal DAQUI traz uma série de reportagens especiais narrada por personagens que viveram a história do colégio
 
 
Professores aposentados viajam nas memórias

Raul estudou, lecionou e inspecionou os educadores do Cruz e Souza

 

BÁRBARA PORTO

CLÁUDIO EDUARDO DE SOUZA

[email protected]

 

O menino sai de casa, com o material escolar devidamente organizado. Usa o único uniforme que tem no guarda-roupa, cuidadosamente limpo e passado, destacando a brancura impecável. Não era apenas para ir à missa que as mães da época caprichavam no traje dos filhos. Ir para a escola era tão sagrado quanto.

Há mais de sete décadas, a disciplina não se assemelhava em nada com a dos dias atuais. Uniforme era exigência. E desculpas ou justificativas não abriam caminho para exceções. O pequeno Raul seguia para a aula, quando um menino de bicicleta passou dentro de uma poça e a lama logo acertou a brancura da roupa da escola. Ele voltou para casa. Colocou peças limpas, mas que não eram o uniforme. Não teve permissão para assistir a aula daquele dia.

Raul Miguel Vieira, hoje com 82 anos, foi um dos estudantes do Curso Normal Regional Professor Artur Cavalcante do Livramento, que funcionava onde é hoje a Câmara de Vereadores de Tijucas. Hoje, a unidade escolar recebe o nome de Cruz e Sousa e, este ano, completa 100 anos de história.

Da estrutura do antigo colégio, Raul lembra que o pátio era repartido por um muro – de um lado as meninas, do outro os meninos. Quando a divisão foi derrubada, os alunos permaneciam na relação “óleo” e “água”. Não se misturavam. “Era algo que fazia parte de nós. Um respeito pelas regras”, recorda. Uma aproximação com as meninas, para a época, passava a sensação de que algo estava sendo desrespeitado. E o respeito era algo fundamental.

Ali Raul se formou como Regente de Ensino Primário, uma graduação da época que permitia ser professor a nível de Ensino Médio. Assim se manteve lecionando em vários colégios da região. Foi, então, para Brusque estudar Magistério. “Era algo que eu amava. Tudo que envolvia a educação. Adorava lecionar, principalmente para as primeiras séries, na fase de alfabetização”, revela, sem esconder o encantamento com o ofício. Na época em que estava no Magistério, Raul era questionado sobre as origens do estudo. E inflava o peito para contar: “eu ficava tão feliz e orgulhoso de dizer que tinha estudado no Cruz e Sousa”.

VIROU INSPETOR

Logo depois de formado, Raul passou no concurso para inspetor escolar das cidades de Itapema, Porto Belo, Tijucas, Canelinha, São João Batista, Nova Trento e Major Gercino. Ia até as escolas e observava o serviço dos funcionários, do professor ao diretor. “Eu achava muito engraçado e meio constrangedor voltar no Cruz e Sousa e ter que avaliar meus antigos professores. Eu saí de lá como Raul e quando voltei era chamado de Seu Raul. Não tem como esquecer”, afirma.

TROCA DE NOME

Em 1955, houve a transferência física do colégio para o local no qual se encontra até os dias atuais, no centro da cidade. Na época, uma série de construções estavam sendo feitas por Antônio Bayer naquela área, como o Tijucas Clube e o ginásio de esportes. Alguns anos depois, em 1971, a unidade escolar passou a se chamar Escola Básica Cruz e Sousa, em homenagem ao poeta catarinense, filho de escravos alforriados.

 

 

 

Tempos de respeito em sala de aula

“Não falavam alto, não interrompiam o professor. Acho até que tinham um pouco de medo, sabe?”

 

Bela acha que, hoje, com “esse tal de computador” as coisas estão mais fáceis

 

Aos 84 anos, Maria Isabel dos Anjos Gonzaga demonstra um carinho profundo em cada palavra que diz sobre o colégio, onde trabalhou durante 25 anos. “Comecei como professora em Canelinha, anos depois fui transferida para o Cruz e Sousa, onde passei a dar aulas de matemática”, conta. Dessa época, lembra da postura dos alunos em sala de aula. “Sempre muito respeitosos. Não falavam alto, não interrompiam o professor. Acho até que tinham um pouco de medo, sabe?”, recorda, quase deixando escapar um riso.

“Tudo era feito à mão e devidamente organizado. Hoje em dia, com esse tal de computador, acho que está mais fácil”, acredita a professora aposentada. Embora tendo conhecimento para atuar como educadora, Bela gostava mesmo é da parte burocrática. Dez anos da carreira no Cruz e Souza foram dedicados à secretaria da instituição, onde trabalhou com Leda Regina de Souza – ex-diretora da instituição e que hoje dá nome ao anfiteatro anexo ao colégio.

“Quando a Leda chegava, todo mundo sabia só pelo perfume que ela usava. Era muito bom”, conta, numa viagem pelos sentidos. E não era apenas pelo olfato que Leda Regina ficou marcada. Da amizade que construiu com uma das figuras mais emblemáticas do colégio, Bela não se esquece do comprometimento da colega. “A paixão dela era o Cruz e Souza. Sempre chegava antes do sinal e só me lembro dela ter faltado por motivos que não fossem profissionais uma vez, quando o pai faleceu”, destaca.

A relação entre as duas é definida por Bela como sendo de confiança. “Se alguém ia reclamar de mim, ela dizia: na secretaria quem manda é a dona Bela, não posso fazer nada!”. A postura firme da diretora é uma das características marcantes. “Ela puxava a orelha dos alunos, beliscava, às vezes até saía um tapinha. E se um pai reclamasse, ela não tinha medo. Se garantia”, fala, com humor.

Leda trabalhou durante 31 anos como professora e diretora do Cruz e Souza. A aposentadoria veio em 1981. E quem assumiu no lugar dela? Dona Bela! Desse tempo, ela sente saudades e guarda boas lembranças. Se perde em pensamentos tentando lembrar o nome dos amigos que fez. “A gente fazia muitos colegas. Qualquer coisa era motivo para uma confraternização. Criávamos vínculos. Bons tempos”, respira, saudosa.

 

 

 

 

Tempo de escola ficou no passado

 

“Não sei se conseguiria lidar com essa geração de jovens”

 

Em 1985, o então Colégio Estadual Cruz e Sousa passou a oferecer o Segundo Grau noturno. Nesse ano existiam três diretores, Mariza Santos era uma destas lideranças da escola. Guarda todos os documentos em pastas organizadas por assunto, um hábito antigo que permanece. Uma delas, em especial, chama atenção pelos cortes de jornais já amarelados. Ela escolhe um e mostra com orgulho. “Nesse dia conseguimos uma boa reforma para o colégio, com o governador Amin. Ganhamos todas as mesas e cadeiras novas. A gente lutava muito por aqueles alunos, para que eles tivessem o melhor”, assegura. Antes mesmo de se formar no Ensino Médio, ela já trabalhava no Cruz e Sousa. “Na época nós começávamos muito novinhas. O conhecimento nas escolas era completo e nos dava base para lecionar cedo e com propriedade”. Foi Leda Regina quem a chamou para trabalhar no Cruz e Souza.

Depois do Ensino Médio, Mariza estudou Educação Física um ano, em Florianópolis. Quando retornou para Tijucas, deu aulas da disciplina no Cruz e Sousa, antes de se tornar diretora. “Tinha alunos que iam só para minha aula. Quem não gosta de Educação Física, né?”, se gaba a professora aposentada. Hoje Mariza diz não saber se voltaria a dar aulas. As mudanças assustam. “Tudo está diferente. São outros tempos, não acompanhei os avanços da área. Também não sei se conseguiria lidar com essa geração de jovens. Hoje prefiro cuidar das minhas plantas”, ressalta, admitindo que o período de escola, ficou no passado.  

 

 

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